sábado, 2 de outubro de 2010

Operações de alta frequência começam a ganhar terreno na bolsa - Num piscar de olhos

Operações de alta frequência começam a ganhar terreno na bolsa - Num piscar de olhos

Imagine, num piscar de olhos, ou seja, em 100 milésimos de segundo, fechar cinco ordens de compra ou venda de uma ação. Parece ficção? Pois esta realidade começou a fazer parte da bolsa de valores brasileira no início deste mês no segmento Bovespa. Isso porque ganham popularidade as operações de alta frequência, que usam programas baseados em algoritmos. Mas, para o investidor pessoa física, o que muda?

Por enquanto, a nova modalidade não está disponível para todo mundo. Só grandes investidores têm acesso à negociação em alta frequência com ações, o que, para uns, deixa o varejo em desvantagem. A boa notícia é que o mercado deve ganhar liquidez, assim como o custo de transação deve cair.

Os algoritmos são programas de computador que monitoram o mercado financeiro e executam, de forma automática, negócios de acordo com parâmetros preestabelecidos. Mas, para que o programa se torne mais eficiente, é necessário que as operações sejam fechadas rapidamente. É aí que entra a alta frequência, que nada mais é do que a velocidade de processamento dos negócios.

A primeira operação de alta frequência na Bovespa foi realizada no dia 15 pela Link Investimentos, para um cliente institucional. Foi utilizada a modalidade "co-location", em que os clientes instalam seus computadores ao lado das máquinas da Bovespa no centro de processamento de dados da própria bolsa. Essa é a forma mais rápida e sofisticada do chamado acesso direito ao mercado (DMA, na sigla em inglês), ou seja, sem a intermediação do sistema das corretoras.

A maior liquidez é apontada como o principal benefício da nova tecnologia para o pequeno investidor, pontua Jansen Costa, superintendente da área de tecnologia da Ativa Corretora. Isso porque o aumento da velocidade de transações abre espaço para maiores volumes de negócios e, consequentemente, redução dos spreads (diferenças) entre preços de compra e venda de papéis.

E spreads menores evitam que o investidor tenha de vender um ativo muito mais barato se quiser se desfazer dele, acrescenta Costa. "No mercado fracionário, algumas ações não têm liquidez, e o investidor acaba tendo de vender mais barato, e isso deve acabar."

No final das contas, a redução dos spreads, que hoje giram ao redor de R$ 0,30 em ações de baixa liquidez, significa menor custo de transação, reforça Daniel Mendonça de Barros, sócio-diretor da Link. "Isso é bom para todo mundo." Ele lembra ainda que, a partir de 1º de novembro, começar a valer a nova política de descontos de emolumentos da bolsa para as operações de "day trade" (em que a compra e venda é feita no mesmo dia). "Quanto mais se operar, menor será o custo", diz. "E isso, junto com as operações de alta frequência, aumentará, e muito, a liquidez da bolsa."

A elevação da liquidez a partir das operações de alta frequência fará com que haja compradores e vendedores para as ações, mesmo em momentos de nervosismo. E, se uma a ação está caindo sem motivo aparente, os programas veem na queda uma oportunidade e saem comprando, o que amortece os prejuízos com o papel. A grande aposta, no entanto, está justamente no aumento de negócios no mercado de opções - contratos que dão o direito ao investidor de comprar ou vender um ativo numa data específica a um preço predeterminado.

No Brasil, as operações de alta frequência respondem por apenas 6% do volume negociado na bolsa, sendo utilizadas principalmente por gestores quantitativos e investidores institucionais. Só para ser ter ideia do potencial de crescimento, nos Estados Unidos, a utilização dos algoritmos já atinge 70% do volume negociado nas bolsas.

Alguns desses modelos são estruturados sob medida para gestores de recursos, por exemplo, e recebem o nome de "Black Box" (caixa preta), pois os parâmetros não podem ser modificados. Já os sistemas nos quais o investidor define os parâmetros são chamados de "White Box".

Só que, nesse contexto, os segundos podem fazer a diferença entre uma estratégia vencedora e outra perdedora. Por isso, as operações de alta frequência vêm ganhando espaço.

Mas, se os benefícios para o pequeno investidor são ressaltados, causa preocupação para alguns especialistas o fato de o varejo ter acesso aos algoritmos, mas não à alta frequência. Isso, em tese, deixaria a competição dos pequenos com os grandes investidores desigual.

"Essas operações, num primeiro momento, contribuem para o aperfeiçoamento do mercado, uma vez que aumentam a liquidez e reduzem spreads, mas não há democratização de tecnologia", salienta Luiz Rogé, sócio-diretor do portal InvestCerto. Para ele, o investidor menor não tem como concorrer com a máquina, que tem mais condição de executar estratégias de melhor preço, preço médio, arbitragem, entre outras.

Isso já é sentido no dia a dia com os algotraders, acrescenta Rogé. É muito difícil acompanhar as ofertas de compra e venda tanto no mercado à vista quanto no de opções, por conta da interferência desses programas que conseguem "enxergar" mais facilmente as distorções de preços, diz.

Alessandra Bellotto e Luciana Monteiro, Valor Econômico 30/09/2010

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